7 de jul. de 2013

Prólogo - Amor entre outras drogas

 
Quatro é um numero legal, forte e com significado. Quatro mais quatro é oito. Oito mais quatro é doze, e doze mais quatro é dezesseis. Dezesseis é igual a quatro carros, cada um deles com quatro rodas. Eles passam por mim a cerca de 40km por hora, mas isso não é relevante. Dois é um bom numero também, romântico. Dois mais dois é quatro, quatro mais dois é seis, e seis mais dois é oito. Oito é igual a quatro motos. Quatro motos e quatro carros dão um total de 24 rodas. Continuo minhas contas, duas motos e um carro depois e ele ainda não chegou. Meu coração pulsa tão rápido que meu coração corre como louco por minhas veias, a euforia é tão grande que não consigo me manter parada, não consigo me focar em nada.
Me levanto, a ansiedade tomando conta do meu corpo e ando de um lado para o outro sem tirar os olhos da estrada ou parar de contar. Mais cinco carros e duas motos. As nuvens estão se dispersando e penso se eu não deveria fazer o mesmo. Mais uma moto e quatro carros. Ele ainda não chegou, e meu pé bate num ritmo que demonstra minha impaciência. A London Eye atrás de mim gira como se dissesse "você devia estar aqui".
Mais uma moto, que vem seguida por um carro, cruza o asfalto a minha frente. 80 rodas, ele está oitenta rodas atrasado. Que espécie de encontro era esse afinal? Minhas mãos tremem, preciso fazer alguma coisa, qualquer coisa. Dou uma volta no banco onde estava sentada, uma senhora na calçada, pronta para atravessar a rua, me olha incriminadora. Abaixo minha cabeça, mas a ignoro. Ela não sabia, não poderia saber, eu não me importo.
Duas motos passam zumbido, 84 rodas. Onde diabos ele se meteu? Suspiro, me sento, começo a batucar a marcha imperial no chão com os pés, enquanto o sinal se abre. 88, 92, 96 rodas. Nem sinal dele. 100 rodas, 102, 104, me levanto disposta a ir embora. Desisto da ideia minutos depois e torno a me sentar.Um ônibus - daqueles vermelhos de dois andares que não gosto de andar porque o teto parece que vai cair na minha cabeça -, passa e fico surpresa por ele ser sustentado por apenas quatro rodas. Mais alguns carros e motos e totalizo 150 rodas.
Comecei a imaginar várias situações, onde ele era atropelado por aquele ônibus vermelho ou se engasgava com aquele chiclete de hortelã que está sempre mastigando. 162 rodas. Isso dá o total de que? Meia hora? Deve ser mais. Ou não. Não sei mais de nada, além de que meu pé está doendo de tanto andar e quero ir embora. Logo vou abrir um buraco no chão de tanto andar.
- Está tudo bem? - uma mulher preocupada me segura pelo ombro, me avaliando.
Delicadamente me afastei dela, acenando com a cabeça.
-Sim. Estou esperando alguém, mas ele está atrasado, muito atrasado. Na verdade, ele deveria estar aqui cerca de 100 rodas atrás, ou 150, não sei muito bem, você me fez perder as contas.
Tudo que precisei foi de uma única respiração para falar isso e ela me encarou longamente, me avaliando. Eu me sentia quente, mesmo que o clima fosse frio. Pensei em retirar o cachecol, mas não queria levantar suspeitas. Suspirei.
-Eu estou bem, não se preocupe. Um pouco agitada somente, nervosa na verdade. Não ligue para mim, são somente os hormônios da idade.
Novamente falei rápido demais e ela não pareceu nenhum pouco convencida, pude ver sua educação britânica lutando contra o impulso de se afastar. Ela pigarreou e franziu as sobrancelhas.
- Você parece pálida. Tem certeza que não está passando mal?
- Você nunca viu uma pessoa nervosa pra um encontro não? - sorri tentando não parecer nervosa, e a mulher, com mais uma olhadela de avaliação, saiu andando.
Puxei o cachecol e o sobretudo para cima, tapando a boca, como as pessoas fazem quando estão sentindo muito frio, e soprei tentando fazer com que o calor passasse. Tentei lembrar onde tinha parado de contar e fingi ser 200. 204, 206, 212, 216, 220, 224, 226, 230, 232, 234... Eu queria chorar. Sentia calor, cansaço e ainda tinha que esperar aquele maldito cara. Porque ele tinha me chamado pra sair se ia me deixar plantada na frente daquela estúpida roda gigante que agora parecia me encarar com desdém.
- O que foi? - perguntei para ela num sussurro - Nunca viu uma garota nervosa antes de um encontro?
Bufei comigo mesma, repetindo mentalmente que era somente coisa da minha cabeça, e resolvi me focar nas rodas. Antes, porém, que eu retomasse a conta, senti uma mão no meu ombro. Levantei a cabeça, a ponto de ver Max sorrindo para mim.
-Você está exatamente 250 rodas atrasado.
Ele me encarou, meio divertido, meio confuso, mas sorriu.
-Me desculpe, tive um contratempo.
-Tudo bem -comecei a me levantar, feliz por poder me mover e andar- Aonde vamos? Guie o caminho.
Entrelacei meu braço ao dele, me sentia esplêndida, pronta para o que viesse, seja pular de um penhasco ou somente um sorvete. Sentia que eu poderia correr uma maratona naquela hora, de certa forma, eu realmente poderia. Toda aquela energia que eu sentia queria explodir seu caminho para fora do meu corpo.
-Então...
Ele começou, e tentei ficar quieta e ouvir o que viria a seguir.
- Então...? - o incentivei quando ele não continuou.
- Meu plano é andarmos na London Eye e... - ele sorriu como se fosse me contar um segredo - Depois vamos a um restaurante almoçar e... Depois vamos para a praça, caminhar.
- Para mim parece muito bom. - sorri animada.
Olhei para a roda gigante e sorri mais ainda, pensando "viu, terei um encontro perfeito, roda gigante intrometida". Max colocou sua mão sobre a minha que passava por seu braço e sorriu, me guiando para a bilheteria. Pagou nossas entradas e esperamos uns dez minutos até a volta que estava sendo dada acabar e podermos entrar.
Não tinha muita gente ali, então conseguimos ficar praticamente sozinhos na cabine. Agradeci mentalmente por isso a quem quer que fosse que providenciou o lugar vazio e a incrível London Eye começou a se movimentar. Coloquei meu peso sobre um pé e apoiei na barra que circulava a cabine.
Enquanto íamos nos movendo com a roda gigante, a vista ia se tornando cada vez mais bela. O rio estava brilhante, apesar de cinza como as nuvens carregadas que era empurradas no céu pelo vento. Olhei para elas, procurando ver formas como fazia quando era criança. Há muito tempo não tinha a paciência de fazer isso, mas era impossível quando se estava tão perto das nuvens. Mas elas estavam muito juntas, não deixando uma só brecha, o que tornava impossível distinguir. Aquelas nuvens acinzentadas cobria toda a cidade (talvez o país) como um frio cobertor, que ao invés de nos proteger da água que vinha dos céus nos sufocava com ela.
Minha mente começou divagar sobre como seria ser sufocada por aqueles pedaços de algodão perversos e, quando dei por mim, alguém estava me chamando com uma voz aflita.
- Por favor, fala comigo... - insistiu, e percebi que era Max, que segurava minha mão entre as suas.
O olhei confusa, pensando o que diabos deu nele, mas meu pulmão ardente reclamou minha atenção como se gritasse "pare de olhar para esse idiota" e percebi que estava arfando e suando frio.
- Droga. - murmurei baixo o suficiente para ninguém ouvir.
- Você está bem?
- Estou... Só tenho um pouco de medo de altura. - falei rápido.
- Me desculpe. Devia ter me contado sobre isso, podíamos ter pulado essa parte do nosso encontro. Max apertou minhas mãos entre as suas e tentei me concentrar em seus olhos cor de mel, sem pensar que eu não conseguia respirar direito.
Bem, faltavam mais vinte e cinco minutos de passeio, e não podia simplesmente pular da cabine. Na verdade eu podia, mas não ia ser um bom final para o encontro. Esse tempo restante se passou da forma mais lenta e torturante possível. Meus olhos iam constantemente para minha bolsa, e quando percebi que estava dando muita bandeira me forcei a parar antes que alguém reparasse.
Quando a volta acabou finalmente - quase pude ouvir o coro dos anjos cantando aleluia -, Max me puxou para fora da cabine e perguntou muito preocupado se estava tudo bem. Forcei o maior sorriso que consegui e respondi.
- Valeu a pena a tontura, a vista de lá é linda! Obrigado por me levar.
Ele sorriu aliviado e passou um braço por minha cintura, me guiando até seu carro. Durante o caminho até o restaurante, tentei agir como se meu mal-estar já tivesse passado. Contei mentalmente cinco minutos - que devem ter sido apenas dois de tão rápido que contei - quando já estávamos lá e pedi licença para ir o banheiro. Apoiei as mãos trêmulas na pia de mármore gelado e me olhei no espelho, o horrível reflexo de uma garota que parecia prestes a desmaiar.
Com um suspiro, peguei o frasco de cor laranja da bolsa e tirei logo quatro comprimidos brancos dele. Engoli depressa sentindo meu corpo relaxar e logo a euforia que sentia antes voltou, e os momentos de desconforto anteriores foram substituídos por imagens borradas e desconexas como se fossem parte de um sonho muito estranho que foi deixado de lado logo depois de eu despertar.
Joguei um pouco de água fria no rosto e retoquei a pouca maquiagem que usava. Voltei para a mesa tão rápido que quando percebi já estava sentada em minha cadeira, olhando o cardápio com um sorriso nos lábios e tentando refrear minhas palavras que saíam rápidas demais. Embora eu conversasse com Max normalmente, minha mente redigia uma grande linha do tempo, pensando desde quando eu tomava quatro comprimidos de uma vez, e contei cerca de quatro meses. Mas desde quando o efeito desses quatro comprimidos não durava mais que quatro horas?
Max me encarou estranhamente alguns minutos, como se suspeitasse que algo estava errado, mas acabou relaxando eventualmente, enquanto isso, fiquei imaginando quantas rodas não estariam passando do lado de fora do restaurante naquele momento.

4 comentários:

  1. Omj amei! Como você escreve bem!! Continua por favor quero muito ler essa fic!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oooi! Ficamos muito MUITO MUUUITO feliz que tenha gostado da fic, de verdade! E se as estrelas estiverem na posição correta, a gente continua a escrever u_u
      Malikisses
      By: Bloo e Amora

      Excluir
  2. HAHAHAHAHAHA SOU MEIO LERDA HAHAHA FIQUEI MEIO PERDIDA NO COMEÇO MAIS DEPOIS ME ACHEI!!!!! MÃOS DE FADA AS TUAS GURIA TÁ DEMAIS TU ESCREVE BEM PRA CARALHO !!!!!!

    xxIza Devine

    ResponderExcluir
  3. Pessoas que escrevem bem como você, eu já to apaixonada pela fanfic ♡

    ResponderExcluir